Em 2010, numa apresentação, o cantautor Renato Teixeira reclamou da falta de continuidade, entre os jovens, da sua proposta de inserir elementos da chamada música caipira dentro da MPB. Disse que já havia feito a sua parte e esperava novas contribuições. De fato, Renato Teixeira trouxe elementos do mundo rural do Sudeste, que sempre fora tratado com um certo preconceito, dada a depreciação sócio-histórica impingida ao caipira durante os anos de êxodo. Renato enobreceu a música brasileira ao ampliá-la a partir da fusão de segmentos que antes não haviam se encontrado. O pedido do Renato Teixeira foi ouvido. Com uma longa estrada musical percorrida, uma visão ampla construída sobre Cultura no período em que atuou na gestão da cultura em Botucatu, um toque de viola refinado e muito pessoal, Osni Ribeiro nos apresenta Arredores, um disco recheado de belas canções que tratam do cotidiano exaltando valores humanos como a verdade, a alegria e a coragem. Indaga sobre as expressões artísticas espontâneas do cotidiano… “deve haver uma viola que ponteie / numa cidade interior / o coração de um cantador” e traz em belos arranjos a raiz caipira nas narrativas de romances, na exaltação à figura do Boi e na releitura de ícones da música sertaneja como Raul Torres, Angelino de Oliveira e Serrinha. Não deixa de lado a sonoridade nordestina na melodia do Boi. Um disco inspirado, enraizado por trazer no bojo das canções a sonoridade já transmutada do universo caipira e contemporâneo por atualizar a importância do cantar e do tocar no cotidiano externo e interno das pessoas. Enfim, um belo disco para encher nossos ouvidos e transbordar os nossos corações.


Ivan Vilela
músico, pesquisador e professor de História da MPB e Viola na Universidade de São Paulo

O Osni Ribeiro é a São Paulo profunda, a São Paulo das serras de Botucatu. A música do vento, dos rios, o canto dos pássaros e seus dons e seus tons geniais. Terra do Jeca de Angelino, de Raul Torres, Tonico, Tinoco, Serrinha. Fusão de índios e negros e portuguesas – e dá-lhe cateretê, catira, ponteado e rasqueado. Por aqui, pela terra vermelha, de alguma maneira todos nascemos naquela serra e carregamos a sua música fecunda.


Bernardo Pellegrini
compositor, músico e jornalista.

O violeiro botucatuense Osni Ribeiro acaba de lançar Arredores, seu terceiro disco-solo. Nas asas da viola caipira, o músico canta temáticas que ainda habitam o inconsciente coletivo do interiorano, entre elas o luar, o amor, a religiosidade, a natureza e a boa e velha prosa. 
Embora beba na fonte, a obra vai além do lamento sertanejo, muito comum no cancioneiro caipira. Exemplo disso é Arredores, a otimista faixa-título do álbum, que versa sobre a sensação de mudar histórias que fazem o mundo.
“Eu sonho, espero, eu posso, eu quero”, brada o caipira empoderado às voltas com reflexões existenciais. “É só buscar ao redor, coisas que a gente só encontra no fundo dos olhos de alguém que confia”, arremata o botucatuense entre percussões e ponteados de viola.  
O instrumento, aliás, é celebrado em Viola Santa. A reverência ao pinho sagrado fica evidente nos versos “é o som desta viola que silencia este meu cantar”. Diante da beleza do fraseado dessa moça, o cantador prefere só ouvir.


Flávio Mantovani
compositor, músico e jornalista do portal “Fora de Pauta” – cultura & jornalismo.

O grande mérito de “Arredores”  é conseguir alcançar uma identidade forte, mesmo apresentando uma rica variedade de ritmos, gêneros e abordagens. Dá pra perceber que cabe muita coisa no embornal do violeiro. E que tudo que está lá lhe pertence. O que é da sua essência não lhe pesa carregar, das ricas tradições caipiras às trovas de novos tempos.
Ouvi o disco do começo ao fim, curtindo cada faixa, como numa viagem por uma estrada cheia de paisagens bonitas. Viagem que termina, quase querendo não terminar, em “Cidades”, canção que sugere que o pensamento não pare por aí. Afinal, paixões podem ir tão longe quanto nuvens vagando sobre cidades ou planícies florescidas. E há muita paixão e muito coração nessa coleção de canções. Há ainda um tanto de sonho, toques de viola, alegrias, tristezas, saudade, natureza, amor, esperança, amizade e promessas de bons caminhos. Uma obra de um artista que observa a vida, no que ela pode ter de imperfeita, bonita, comum, especial, finita, profunda, radiante. E ao transformar suas observações em canções nos provoca uma variedade de emoções e sentimentos.


Sérgio Santa Rosa
jornalista, escritor, crítico musical e pesquisador de cultura popular

A afinação das 10 cordas do botucatuense Osni Ribeiro conversa com a memória afetiva do compositor e o universo caipira contemporâneo. É assim que o violeiro nos apresenta o lançamento de “Arredores”, trabalho com 15 faixas, das quais quatro são instrumentais.
Apreciador dos ponteios, Osni mistura composições antigas, consolidadas no cancioneiro de raiz, com trejeitos atuais em seu jeito de tocar. Na visão de Osni, os arredores cantam o cotidiano urbano e rural, de aproximação e mergulho de vivências. As canções são para transbordar em sonoridades que, infelizmente, não serão sintonizadas em rádios, digamos, comerciais.
Urbano de convivência, bucólico de sensibilidade, o disco de Osni acessa, naturalmente, cenários de antigas vilas, casas de alpendre, varandas e quintais, correlação de sua trajetória que está, naturalmente, identificável no DNA de “Arredores”.

Nelson Itaberá 
compositor, apresentador e jornalista do Jornal da Cidade, da Rádio TV Câmara de Bauru.

Osni Ribeiro sabe muito bem como extrair das dez cordas todas as sonoridades que a viola caipira guarda em seu bojo, como convém a um músico que também nasceu naquela serra em cujos pés encontram-se as cidades natais e os ranchinhos beira-chão onde viveram mestres como Angelino, Torres, Serrinha e Carreirinho. É também poeta da melhor cepa, talento e sensibilidade que leva para as composições. Apenas estes atributos, isoladamente, já valem audições sem medidas do Arredores, mas Ribeiro aprecia se acercar de colegas igualmente talentosos, parte da turma com a qual convive, cai na estrada e cria. Enriquece ainda mais o disco com diversas participações especiais – apresentando como novidade a estreia do paulista de Irapuru, Júlio Santin, como intérprete, mais conhecido pelos dons de violeiro do que pela intimidade da voz com o microfone. Além de Santin, encontram-se nos créditos músicos como Cláudio Lacerda, Jaime Alem, Toninho Porto, José Staneck, o barbatuque Marcelo Pretto e Toninho Ferragutti. O álbum ainda faz referência aos luthiers, “pais” das violas utilizadas por Ribeiro: Dimathus, João Luthier, Kleber Silveira, Vergílio Lima, Viola Ramos e o onipresente Levi Ramiro.


Marcelino Dias
jornalista e crítico musical do blog Barulho D’agua.

“Arredores” é o terceiro disco do Osni Ribeiro, marcando seu retorno ao oficio de compor e cantar, depois de algum tempo atuando como Secretário da Cultura de sua cidade, período que deve ter lhe servido para aprofundar, por dever do oficio, seus conhecimentos sobre o rico patrimônio que a simplicidade da cidade não oculta na singeleza de suas ruas. No disco, igualmente podem ser pressentidas a transformação nas últimas décadas de um Brasil então predominantemente rural em maioria urbana. Embora as referências tradicionais sejam marcantes, há mistura de ritmos e arranjos e a presença de um grande time de músicos – Antonio Porto, Marco Bosco, Steve Negrão, Tico Villela, João Lucas, Guilherme Chiapetta, Toninho Ferraguti,  José Staneck, Joãozinho Barroso,  Rafael Gandolfo, Zé Cláudio Lino, Fabius, Jaime Além, Claudio Lacerda, Marcelo Pretto, Julio Santin. 
Lembrando o texto no encarte, por Ivan Villela, “a sonoridade de Osni vem atualizar a importância do cantar e tocar no cotidiano das pessoas”. Ou seja, não importa onde estejamos, o que importa são os valores que carregamos conosco, que estão em nossa gênese. 
“Arredores”, o próprio sugere, lembra que o caipira já não vive mais na solidão ignota de sua casinha na beira ou do meio da mata: o caipira de hoje mira e conhece e busca conectar-se aos “arredores, sejam os próximos à sua moradia ou os “arredores do mundo”, dado o encurtamento de distâncias.  Embora o destino universal das comunidades seja o gradual afastamento – rápido ou gradual, contudo, inexorável – dos campos e da natureza idílica rumo às cidades, os valores que permeiam a vida e nos guiam nas rotas desconhecidas, permanecem inalterados: a fraternidade, o amor, o respeito a natureza, a religiosidade e especialmente o hábito de prosear, talvez o mais antigo da humanidade e que a correria dos tempos modernos faz a maioria das pessoas esquecer. Não raro o caipira habita a própria capital e suas periferias, tangido do campo. Os citados valores – amor, natureza, religiosidade, tradição, festejos populares, etc. – são lembrados pelo violeiro, cantador e compositor ao longo do CD, porque são nossa raiz, berço imortal de nossa alma que o inconsciente coletivo que molda e forma a cultura brasileira há de fazer permanecer para sempre. 


Joel Emídio
colunista do blog Ser Tão Paulistano.